A raiva matou já este ano, apenas em Luanda, 37 pessoas, mas os últimos sete óbitos foram registados na semana passada, afirmou uma fonte do Ministério da Saúde angolano.
Segundo a fonte, a falta de vacina tem sido uma preocupação, que deverá ficar resolvida nas próximas semanas, depois de uma reunião realizada quinta-feira, em Luanda, entre o Ministério da Saúde angolano e o Comité de Coordenação Inter-agências (CCI).
O CCI é o conjunto de agências humanitárias das Nações Unidas e organizações de ajuda humanitária para respostas a emergências, avaliação de necessidades, apelos consolidados, organizações de coordenação no terreno e desenvolvimento de políticas humanitárias.
A fonte referiu que há vacinas para os animais, mas o problema continua a ser que os donos não os levam à vacinação.
“É importante que se faça um trabalho conjunto. Na campanha da febre-amarela, por exemplo, fez-se quatro intervenções em simultâneo – a luta antivetorial, a vigilância epidemiológica, a mobilização social e a vacinação, o mesmo deverá acontecer com a raiva”, avançou.
Estimou ainda que o problema da raiva continuará a ser uma preocupação enquanto circularem nas ruas da capital angolana, Luanda, animais vadios.
“Se os cães não forem recolhidos, todo o trabalho que se fizer é em vão, daí a importância de o governador de Luanda baixar orientação aos administradores municipais para que os serviços comunitários façam a recolha dos animais nas ruas”, apelou.
Na reunião, foi igualmente abordada a questão da escassez, desde há cerca de um mês, nas unidades hospitalares de Luanda de vacinas BCG, administrada à nascença aos bebés para protecção contra a tuberculose.
Em declarações quinta-feira à rádio pública de Angola, a coordenadora do Programa Nacional de Vacinação, Alda de Sousa, disse que os stocks de vacina BCG são muitos baixos, mas é uma situação que ultrapassa as autoridades angolanas, porque a escassez é causada pela baixa produção internacional da mesma.
“A curto prazo nós vamos receber as vacinas para que não haja ruptura efectiva de vacina nacional, contamos receber vacinas dentro das próximas semanas e também um exercício interno para aquisição de vacina dentro do mercado nacional, caso haja vacina disponível”, referiu.
Raiva é problema recorrente
Em 2015, nos primeiros nove meses, já contava com 19.073 casos de mordeduras de animais, dos quais 78 resultaram em mortes, na sua maioria crianças, situação que – supostamente – preocupa as autoridades sanitárias.
Em Outubro do ano passado, a chefe de departamento de inspecção da direcção provincial da saúde de Luanda, Paula Silva, disse que o número de mortes por raiva representa um aumento significativo, comparado com os 31 registados em 2014.
Adiantou que os municípios de Belas, Kilamba Kiaxi e Maianga apresentam o maior número de casos (15% dos casos cada), seguindo-se Cazenga (11%), Rangel (9%), Sambizanga (9%) e Viana (8%).
Relativamente às mortes por raiva registados no período em referência (Janeiro/Outubro), o município de Viana liderava a lista dos casos, com um total de 27 óbitos, seguindo-se Cacuaco (14), Cazenga (13), Kilamba Kiaxi (10), Belas (7), Icolo e Bengo (3), Sambizanga (2) e Maianda e Samba com (1) cada.
Paula Silva admitiu que a situação era “preocupante”, salientando que continuam as campanhas de sensibilização sobre os cuidados a ter com os animais, sobretudo as crianças, já que elas representam o maior número de vítimas.
De acordo com a responsável, crianças dos cinco aos nove anos aparecem nas estatísticas como a mais afectadas, sendo também os rapazes os mais atingidos.
O exemplo do Cacuaco
As autoridades sanitárias do município do Cacuaco estavam preocupadas com o elevado número de ataques por cães, com uma média semanal de mais de 50 casos, registados nesta circunscrição nos arredores de Luanda.
O director municipal de saúde pública do Cacuaco, Vítor Teca, classifica como “assustador” o número de casos registados, envolvendo estes ataques a pessoas.
Entre finais de 2008 e meados de 2009, um surto de raiva assolou a capital angolana, tendo vitimado mais de 100 pessoas, sobretudo crianças.
“Semanalmente, registamos cerca de 53 casos de mordeduras e o nosso apelo à comunidade tem sido encaminhar a pessoa mordida aos serviços de saúde municipal do Cacuaco e, antes de sair de casa, lavar a ferida com bastante água e sabão”, referiu o técnico.
A médica veterinária Aida Luís Vieira explicou que semanalmente são vacinados entre 100 a 200 cães, considerando que é um número é ínfimo face à população canina existente no Cacuaco.
Em 2009, para fazer face a um surto de raiva, as autoridades sanitárias avançaram com campanhas de vacinação para animais e pessoas, bem como com a recolha de animais vadios das ruas da capital angolana.